Livre-Arbítrio e Multiversos

És Mais do Que Uma Bola A Descer Uma Montanha? (4min)

Imagina uma montanha gigante – pode ser o Evereste. Agora imagina que do cimo do Evereste atiravas cem bolas de futebol em direções diferentes e logo a seguir fazias “pausa” ao tempo para fazer umas contas.

Sabendo as condições iniciais, a topografia da montanha, e as propriedades físicas de todos os materiais e meios, então graças à Física poderias calcular ao milímetro onde cada uma das 100 bolas de futebol vai parar. Até poderias calcular em que direção vai ficar apontado o pipo de enchimento e o formato peculiar das manchas de relva que vai ganhar pelo caminho. A viagem da bola durar 5 minutos ou 5 milhões de anos é irrelevante – seguiria sempre as leis da Física.

Será que a história inteira do universo foi apenas uma versão mais complexa disto? Será que somos o resultado inevitável do desenrolar das várias leis da Física desde o Big Bang até hoje?
De acordo com tudo o que o método científico nos permite estudar, os teus pensamentos, emoções, e sensações são fenómenos bioquímicos que por sua vez são fenómenos da Física. Se assim for, tudo o que está a acontecer em todos os cérebros de todos os seres humanos também é o inevitável desenrolar das leis da Física – autênticas bolas a cair pela montanha abaixo.
Em filosofia esta ideia chama-se Determinismo: tudo estava escrito nas estrelas desde o BigBang. Tal como o Édipo, não tivemos hipótese.

No fundo, tudo é Física.

Aceitar o determinismo é aceitar a versão científica daquilo que costumamos chamar “destino”: As condições iniciais do universo só poderiam resultar na história da humanidade ter acontecido exactamente como aconteceu. Nenhuma nuvem poderia ter tido uma forma que não teve, nenhuma andorinha cantar uma canção que não cantou, nenhum amante sentir uma saudade que não sentiu, nenhum leitor do Despolariza terminar este parágrafo num momento diferente daquele em que o terminou.12


É muito difícil argumentar contra o determinismo com o conhecimento científico que existe em 2020. Defender que a única parte de todo o universo que não obedece às leis da física é uma parte da nossa espécie é uma ideia bastante antropocêntrica.3
Mesmo que exista algum Mecanismo Metafísico de Livre Arbítrio (MMLA) – algo que se assemelha à ideia de alma – quando é que esse mecanismo começou a existir? Foi gradual ao longo da evolução das espécies, ou foi de repente, no primeiro Homo Sapiens? E o pai desse primeiro Sapiens – ligeiramente menos consciente? E o Avô LUCA?

Da forma como eu vejo as coisas, o determinismo e o livre-arbítrio são incompatíveis. Tens de escolher entre 1) resignares-te com o facto de não teres livre-arbítrio, ou 2) declarares-te crente em relação à existência de um TU para além da biologia e da física – um sujeito não-material que de alguma forma controla as decisões do teu cérebro material. Tal crença é um acto de fé – ou pelo menos um acto de esperança!
Como existem filósofos que não querem abdicar do seu livre-arbítrio nem do seu determinismo hiper-racional inventaram o compatibilismo. Eu não sou grande fã mas leiam e decidam por vocês.4

Não temos problema nenhum em acreditar que a formação das estrelas, dos planetas, e das primeiras bactérias tenham sido um simples desenrolar das leis da Física. Então porque é que temos uma aversão tão grande à ideia de não ter livre arbítrio? Algumas ideias:

1) Perder a crença no livre-arbítrio é sofrermos um ataque ao nosso ego – o EU que quer, pode, e manda.
2) Conscientemente ou não, tememos que ao perder o livre-arbítrio possamos ir parar a um buraco niilista onde já não existe motivação para nos esforçarmos na vida.
3) A perda de livre-arbitrio desmonta as nossas culturas.
Qualquer cultura humana ergue-se sobre os pilares das suas histórias morais. É das histórias sobre o discernimento entre o bem e o mal que nascem os valores, as leis, os prémios, e os castigos que orientam a nossa vida pública e privada. Sem livre-arbítrio e agência moral, nada disso faz sentido.
4) A perda de livre-arbítrio abala a nossa psique.
Sem livre arbítrio um Pai sacrificar a vida por um filho não é um gesto louvável nem heróico – foi Física. Sem livre arbítrio o Stalin ter mandado matar milhões não foi moralmente condenável – foi Física. (Será que o amor mais puro que já sentiste também foi só Física?) Somos seres com cérebros profundamente morais então descartar a ideia da responsabilidade moral é tirar o tapete à forma como os nossos cérebros evoluíram para interagir com o mundo. A nossa psique não lida muito bem com anularmos uma parte tão grande daquilo que a guia.

Por causa da aversão que nos cria, não apetece nada acreditar no determinismo. No entanto qualquer bom pensador sabe que uma ideia causar aversão não nos diz nada sobre a sua veracidade objectiva. A morte também nos causa aversão e é uma verdade tramada pá.

Uma tentativa de escape para quem quer acreditar nas duas coisas em simultâneo é definir a palavra “Metafísica” na expressão MMLA como algo que possa eventualmente vir a fazer parte da Física mas que neste momento histórico vai para além da nossa compreensão dela. Ou seja, com a evolução do conhecimento humano o MMLA poderá vir a ser entendido, fazendo com que saia do domínio da Metafísica e passe a ser um simples MLA (Mecanismo de Livre Arbítrio).

Um Mecanismo de Livre Arbítrio dentro da Física tridimensional conhecível.

Nesta curva da nossa viagem filosófica os compatibilistas poderão estar entusiasmados. Infelizmente, na contracurva que se segue vamos descobrir que uma descoberta dessas não resolve nada – simplesmente empurra o problema um passo para trás.

A Esperança do Livre Arbítrio (6min)


1) Os Porquês Nunca Acabam

Um Poema.
Um homem viu uma maçã cair ao chão;
O Newton descobriu que essa queda depende da massa e desenvolveu a fórmula da Força Gravítica;
O Einstein descobriu que a Força Gravítica era um resultado da massa a distorcer o espaço-tempo e desenvolveu a Relatividade Geral;
O Zé Pepino descobriu que o Espaço-Tempo se distorce devido à Força Plutífica e desenvolveu a fórmula;
O Zé Batata descobriu que a Força Plutífica resulta do comportamento de uma partícula sub-atómica do próprio espaço-tempo, os Rendufiões;
O Zé Bino descobriu que que os Rendufiões se comportam dessa forma porque estão em constante interação com outra partícula: os Anti-Rendufiões;
O último Zé ficou em casa a brincar com os filhos porque percebeu que aquele jogo não tinha fim e que havia outros jogos que lhe davam mais prazer.

A ciência nunca acaba. Até a Força Gravítica (a primeira que descobrimos) acaba em vários pontos de interrogação. Não existe um único ramo da ciência que não acabe da mesma forma.

Vamos fazer o exercício de imaginar que daqui a 100 anos se descobre uma zona do cérebro muito pequena e altamente executiva onde reside o nosso livre arbítrio. Podemos ser ainda mais radicais e dizer que essa zona comunica com o resto do cérebro através de uma força nova, totalmente desconhecida até então, a Força Supernova! Uma descoberta absolutamente revolucionária. Seria porreiro pá, mas não existe razão nenhuma para pensar que a descoberta da Força Supernova teria mais impacto na questão do livre-arbítrio do que a descoberta da Força Gravítica, Electromagnética ou qualquer uma das outras. Igualmente, esse “cérebro do cérebro” teria de ser feito de partículas ainda mais pequenas que definem o seu comportamento e que obedecem às leis da Física. Numa viagem de causalidade – um zoom-in contínuo de porquês – parecem-me existir três soluções possíveis:

1) A causalidade é infinita: Tudo tem uma causa prévia que justifica o seu comportamento – uma regressão infinita.
2) A causalidade é finita: No final dos porquês existe uma Causa Original sem causa prévia. O causador sem causa. A ideia de Deus.
3) A causalidade é circular: Nesta hipótese um dia vamos olhar para dentro de um microscópio e descobrir que a partícula mais pequena de todas parece muito o nosso próprio universo. Mais um bocadinho de zoom e veremos a nossa própria nuca debruçada sobre um microscópio. Mais um bocadinho de zoom e veremos outra vez o nosso Universo, dentro desse primeiro que encontrámos. Esta solução não é infinita nem exige um causador original mas exige algo igualmente (ou mais) difícil de entender.56

Há poucas coisas mais humildantes do que pensar sobre isto.
Causalidade infinita, Causalidade finita (Deus), Causalidade Circular. Qualquer uma das hipóteses merece uma utilização do meu gif favorito, por isso com licença.

Os porquês da ciência nunca acabam. E ainda bem – são eles que tiram os cientistas da cama de manhã.

2) A Física é Mesmo Estranha

A certeza sobre a existência de um MMLA só é possível com fé cega ou com uma experiência subjectiva muito forte nesse sentido (que é conhecimento na mesma mas por não ser replicável nem mensurável não se pode chamar ciência). A certeza sobre o determinismo também só é possível com fé cega ou com uma certa arrogância no que toca ao nosso conhecimento do mundo. Neste caso parece-me que a arrogância possa vir da ignorância em relação à quantidade de pontos de interrogação que ainda existem. Comecemos pelo tamanho das cousas.7

O universo tem uma característica muito estranha: as regras mais importantes da Física mudam consoante a escala que estamos a estudar. Para perceber isso vamos muito rapidamente ver alguns momentos em que isso aconteceu.


Em 1120 praticamente toda a ciência era feita com dados que conseguíamos recolher com os nossos cinco sentidos a nu. Mesmo assim aposto que havia gente que dizia que a natureza já tinha sido quase toda compreendida pelo homem.

Em 1820 já tínhamos instrumentos como microscópios e telescópios que nos enalteceram os sentidos. O desenvolvimento da óptica foi uma verdadeira revolução no mundo científico – abriu-nos o leque nos dois sentidos e permitiu-nos observar células e planetas distantes. Observar células foi especialmente estranho porque percebemos que as regras do jogo eram bem diferentes, àquela escala a Gravidade e a Mecânica (que conhecíamos tão bem) não tinham grande relevância – descobrimos que o mundo celular funciona muito mais em função da química e do comportamento dos fluídos.

Quando chegou 1920 já tínhamos descoberto que a célula era absolutamente gigante quando comparada com o átomo. Ao explorar os átomos de forma individual descobrimos mais uma vez uma mudança nas regras predominantes do jogo: este mundo novo era guiado por Forças Electromagnéticas e Forças Nucleares onde a química e o comportamento de fluídos pareciam praticamente irrelevantes. No final do século XIX o determinismo reinava sem grande concorrência – conseguíamos prever matematicamente quase tudo aquilo que andávamos a medir no Universo. Em 1874 um professor do Max Planck até lhe disse para pensar bem antes de ir para Física porque já havia muito pouco por descobrir! Todas as gerações de cientistas têm frases parecidas.8

Os anos que se seguiram mudaram tudo. A descoberta da Relatividade Geral e da Física Quântica abalaram o mundo científico. Eu diria que foram a maior mudança nas regras do jogo até agora. A Física Quântica desorientou os departamentos de Filosofia pelo mundo fora porque introduziu a incerteza nas próprias leis da Física e da causalidade – isso deu muita esperança ao livre-arbítrio.

A forma mais popular de explicar a incerteza do mundo quântico é o famoso Gato de Schrodinger:

Imagina que existe um gato dentro de uma caixa fechada, totalmente opaca. O que acontece no mundo subatómico é o equivalente ao seguinte: Quando a caixa está fechada e não consegues ver o gato ele está simultaneamente vivo e morto numa sobreposição dos dois estados, ambos com 50% de probabilidade. O gesto de abrires a caixa e verificares se ele está vivo ou morto faz com que a sobreposição dos dois estados deixe de existir e ele passe a estar em apenas um desses estados – ou vivo ou morto. Na vida real em vez de gatos são electrões e em vez dos estados “vivo” e “morto” existem os estados “spin positivo” e “spin negativo”. 9

Se não faz muito sentido são boas notícias. Como dizem muitas vezes os professores de Física: “Se achas que percebeste a Física Quântica então é porque não percebeste nada.” A realidade sub-atómica é demasiado contra-intuitiva para fazer sentido.10

A Física contém incerteza! Antes de esfregarmos as mãos todos contentes por voltarmos a ter livre arbítrio, é importante referir que embora a incerteza do mundo quântico possa ser um argumento válido contra o Determinismo, ela não veio dar carta branca ao Libertismo.11Isto por duas razões:
1) Aquilo que agora nos parece verdadeira aleatoriedade ou incerteza pode ser falta de conhecimento sobre o processo. Antes de entendermos a Física Clássica, atirar uma moeda ao ar também parecia um fenómeno totalmente imprevisível. Hoje em dia sabendo as condições iniciais do lançamento da moeda podemos calcular a face vencedora mal a moeda começa a voar.
2) Mesmo que exista verdadeira aleatoriedade no comportamento das partículas, isso não implica que tenhas capacidade para interferir com elas. Se por exemplo um neurónio do teu cérebro disparasse uma sinapse 50% das vezes numa direção e 50% das vezes noutra, isso não implicaria que tivesses controlo sobre o que estava a acontecer.

Conclusão deste mambo quântico: Parece que a componente probabilística da Física Quântica atrapalhou um bocado os Deterministas. Não deu carta branca aos libertistas mas deu-lhes alguma coisinha – se realmente existir um MLA (metafísico ou não) talvez essa nossa vontade seja comunicada através de uma ligeiríssima interferência nessas ondas de probabilidade.

Chegamos então ao dia de hoje. Sabemos que um átomo é gigante- um milhão de vezes maior do que um quark – e que a nossa galáxia inteira é irrelevante no Cosmos. Nas estrelas encontrámos outras mudanças nas regras do jogo. Quando estamos a fazer medições à escala dos movimentos galácticos, a Energia Escura (expansão do espaço-tempo) é absolutamente necessária. Já à nossa escala esse fenómeno é desprezável. Se assim não fosse estaríamos sempre a expandir com o universo!12

Provavelmente ainda só conhecemos uma pequena migalha entre o grande e o pequeno.

Se até agora as regras da Física mudaram de forma tão radical consoante a escala, tudo aponta que isso continue a acontecer e que ainda tenhamos pela frente muitas mudanças de paradigma que vão revolucionar a nossa forma de ver o mundo. Acreditar que não é um gesto de fé que vai contra toda a história da ciência até ao momento. Em 8020, os cientistas de 2020 e os de 1020 vão parecer igualmente ignorantes.

Um Debate
“A Física é mesmo estranha e essa estranheza apresenta uma esperança para o livre-arbítrio.”
“Talvez, mas não podemos ignorar que também apresenta esperança para a existência do Elefantião, uma partícula sub-atómica que parece um elefante cor-de-rosa. O mistério, por si só, permite acreditar em qualquer coisa desde que caiba na imaginação humana.”
“Tá bem pá, mas comparar o Elefantião com o Livre-Arbítrio é intelectualmente desonesto. Repara que todos conhecemos intimamente a sensação de ter livre-arbítrio enquanto que nada indica a existência do Elefantião.”
“Essa sensação de livre arbítrio não deixa de ser subjectiva por isso não é cientificamente válida.”
“Tens a certeza disso? Quando um astrónomo solitário descobre uma nova estrela, aquilo que transforma esse conhecimento subjectivo em algo cientificamente válido é existirem trinta outros pares de olhos cujo somatório de experiências subjectivas confirmam as coordenadas da estrela. No caso do livre-arbítrio em vez de trinta existem sete mil milhões de pessoas para te confirmar o que sentem. Se a ciência objectiva nasce sempre da concordância entre várias experiências subjectivas, pode-se dizer que o livre-arbítrio é um facto.”

Foi um belo debate despolarizado mas na minha humilde opinião a melhor aposta para o livre-arbítrio está nas dimensões espaciais superiores. Vamos a isso.

3) A Quarta Dimensão e Mais Além

Se definirmos Metafísica como o que vai para além daquilo que algum dia poderá vir a ser entendido pelo ser humano, então poderá ser dito que a crença num MMLA tem uma natureza mais “espiritual”.

A Azul vemos a quarta dimensão espacial que contém um MLA e uma ligação ao nosso Universo 3D.

Hesitemos perante usar a palavra “espiritual” em conversas sobre a quarta dimensão. A quarta dimensão espacial é um conceito cada vez mais científico. É absolutamente necessário para String Theory, uma hipótese provável para a explicação da Matéria Escura, e uma hipótese provável para a geometria de expansão do universo que vimos no Big Bang Que Te Pariu.

Para além disso (como vimos no Flatland desse capítulo) não nos sentiríamos necessariamente “espirituais” se tivéssemos em casa uma folha de papel 2D com seres bi-dimensionais com quem pudéssemos falar e interagir sem que nos vissem. 13

E se tivessmos forma de colocar um capacete e ligar os nossos cérebros tridimensionais aos cérebros deles para os controlar? Nesse caso seríamos nós o MLA que controla a sua vida. É uma hipótese perfeitamente válida para o livre arbítrio estarmos a ser jogados por um jogador que prefere não saber que está no jogo porque a ilusão lhe dá mais adrenalina.
Esse jogador tanto pode ser de uma dimensão superior espacial (como nós jogarmos uma vida de Flatland) como também pode ser um jogador de uma dimensão superior informática. Nessas hipóteses o nosso Universo é uma simulação informática e podemos estar a a ser jogados por uma entidade que não escolheu jogar essa simulação (como no Matrix), ou um por um ser que escolheu jogar como neste exemplo do Rick and Morty:14

Deixando de parte jogos e simulações, o espaço 4-dimensional também é útil para imaginar os conceitos de alma das grandes religiões. Vamos primeiro representar o nosso universo inteiro em 4D tal como fizemos no capítulo anterior.

No Cristianismo, Judaismo e Islamismo cada alma (ou MLA) só tem hipótese de viver uma vida. Nasce connosco e no momento da nossa morte perde ligação à nossa dimensão física. Nesse momento é julgada por um juiz moral (Deus) e é despachada para o Céu ou Inferno por toda a eternidade.

Em religiões que acreditam na reincarnação (Hinduísmo, Budismo, Sikhismo) a nossa vida é continuamente julgada. Os MLAs são infinitos no tempo e consoante o nosso comportamento saltam para uma vida melhor ou pior após cada morte. Essas religiões ensinam que o teu MLA já teve ligado a vários outros animais antes de estar ligado a ti e que a única forma de escapares a esse ciclo de renascimento (Samsara) é atingires um estado de perfeição (Nirvana/Moksha) que te permitirá desligar definitivamente do mundo material e passares a viver uma vida puramente espiritual – o equivalente do “ir para o Céu” das religiões.

Porquê parar por aí? Nunca vamos conseguir olhar para a quarta dimensão por isso podemo-nos divertir! Tenho usado um fundo azul por ignorância, mas na verdade ela pode ter qualquer forma imaginável e os nossos MLA’s podem ter histórias completamente diferentes daquelas que as nossas religiões nos ensinam.

Universos em expansão na quarta dimensão. Neste caso nascem da mão de um criador. (Sam del Russi)
Um multiverso visto da quarta dimensão. (Sam del Russi)
Muitos universos a ir em direção a uma singularidade qualquer.
Talvez o nosso universo seja uma lâmpada extremamente útil para iluminar qualquer coisa na quarta dimensão. Um escritório. Uma estrada. Uma roulotte de kebabs.

Conclusão (2min)

A primeira vez que falámos da tua falta de livre-arbítrio foi quando pintámos os primeiros anos do Quadro da Tua Vida. Com o capítulo de hoje fomos (muito) mais além. Questionámos se mesmo em adulto tens livre-arbítrio. A ciência em 2020 faz parecer que não. No entanto a nossa viagem através dos pontos de interrogação da Física mostrou-nos que ainda há muitos lugares onde ele possa vir a aparecer. Ele pode existir nos mistérios da causalidade, nos mistérios do infinitamente grande e pequeno, na estranho facto das regras da Física mudarem consoante a dimensão, e na possibilidade cada vez mais real das dimensões espaciais superiores. Com tudo isso ganhaste uma nova ferramenta despolarizadora. OS PONTOS DE INTERROGAÇÃO.

Que eles te ajudem a ter presente que a vida está permeada de mistério e que o livre-arbítrio continua a ser um deles. Pode vir a ser útil quando alguém te chamar fascista ou comunista porque talvez não fosse possível essa pessoa ter agido de outra forma. Talvez zangares-te com essa pessoa seja como zangares-te com uma onda por ter quebrado.

Uma vez insultei uma onda mas foi por ser nabo a surfar.

Subjectividades Finais

Para alguém que acabou de dedicar vários dias da sua vida a estudar e escrever este ensaio, isto poderá parecer um contra-senso, mas não me é especialmente importante ter livre-arbítrio.
Desde que eu sinta que o tenho está tudo bem. Assim sendo, fiz o que quis fazer, mesmo que não pudesse ter feito diferente : )
Se realmente for uma ilusão – que benção! Permite-me acreditar no amor. Permite-me acreditar na responsabilidade moral. Permite-me sentir que os meus dias estão cheios de decisões que podem levar o meu mundo numa direção com menos sofrimento e mais paz.

Isto é que foi viajar na maionese, amigos.
“Só sei que nada sei” é pouco!
Nem sei se nada sei.


Quando os moderados ficam em silêncio os polarizados controlam o mundo. Se gostaste deste post, por favor partilha 💙

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  1. Lembras-te quando na Lotaria Genética e Social descobrimos que a probabilidade de teres sido feito pelos teus pais naquela noite foi de um em 1,2 quadrillion? Se aceitares o determinismo, então afinal a probabilidade de existires desde o BigBang sempre foi 100%. Blog mais inconsistente de sempre pá.

  2. Para os nerds de estatística: Num mundo determinista, P(Existires|BigBang)=1.

  3. Talvez seja por isso que as explorações da metafísica e da espiritualidade que englobam o Universo inteiro sejam mais populares nos dias que correm – pelo tamanho do cosmos parecem-nos mais prováveis e humildes.

  4. O compatibilismo, entre outras coisas, distingue influência interna de influência externa. Isso pode ser interessante de uma perspectiva filosófica mas não faz sentido nenhum de uma perspectiva científica. A Física não quer saber se a Física que está a Fisicar está a acontecer dentro ou fora do nosso cérebro ou da nossa psique. Muito menos quer saber quais são as palavras, lógica semântica ou lógica matemática que certos macacos mais evoluídos usam para a descrever. Já existia antes de tudo isso. Sem querer ofender os compatibilistas presentes, parecem-me jogos inteligentes de palavras que são um ótimo exemplo da razão ao serviço da emoção. Mas quem sou eu?

  5. No capítulo anterior aprendemos que se o nosso Universo 3D for a superfície de uma esfera em 4D, então qualquer viagem em linha recta pelo cosmos volta ao ponto de partida. Neste caso é como se a dimensão “Pequeno-Grande” tivesse também ela uma geometria circular numa dimensão superior de forma ao muito grande e muito pequeno se encontrarem. Já entraram num elevador com dois espelhos opostos onde conseguiam ver infinitas imagens vossas? Seria parecido com isso mas de um lado do elevador estaria a direção “muito grande”, do outro lado a direção “muito pequeno”, e não seria preciso usar nenhum espelho.

  6. Bolinha mais para Físicos. Esta terceira hipótese (que não sei se já foi proposta antes mas quis partilhar a ideia convosco) tem alguns problemas. Exige que o Princípio de Incerteza de Heisenberg esteja errado (ou incompleto). Exige também uma recalibração da velocidade da luz em algum ponto de transição entre o “muito grande” e o “muito pequeno”. Como já testemunhámos uma recalibração da própria causalidade quando se descobriu a Física Quântica, não me parece uma hipótese menos provável do que soluções como o Infinito ou o Causador Sem Causa. Se conhecerem mais alguma solução partilhem nos comentários!

  7. Sempre quis escrever a palavra “cousas” à antigamente. Se calhar quando isto for lido daqui a milhares de anos vão pensar que ainda se usava por esta altura. Chupa futuro.

  8. Por muito que eu admire o Schrodinger, acho que a analogia do gato podia ser um bocado melhor. A morte é algo irreversível então pode criar mais confusão do que necessário no ouvinte. A última coisa que precisamos quando estamos a falar de física quântica é mais confusão pá. É por isso que eu prefiro uma história em que o gato esteja numa sobreposição de pêlo azul e pêlo vermelho e ao abrirmos a caixa ele passar a ter apenas uma dessas cores.

  9. É por isso que a palavra “Quântica” é tão popular entre os gurus de terapias alternativas. Fornece a aparência da credibilidade científica e o mistério espiritual em simultâneo. Um dia hei de escrever um post só sobre isso.

  10. Os Libertistas são a equipa que acredita no livre arbítrio.

  11. A Energia Escura pode ser uma ótima desculpa para quem está a engordar.

  12. Também não seríamos necessariamente espirituais por conseguirmos ver o interior dos seus orgãos ou fazer um “milagre” como escurecer o seu universo inteiro com uma manta.

  13. Rick and Morty é incrível <3

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